sexta-feira, 14 de maio de 2010

Vida que outrora soube minha

Sabe a pouco. Sonhos infundados, fundamentados, ou sem razão de ser. Sonhos finitos ou infinitos em que já pus um ponto final. Anos que passaram sem que os visse, sorrisos que não apaguei da memória, sensações desvanecidas agora voltadas. Saudades do que veio mas não ficou, saudades do que foi mas não partiu. Mas me partiu. Saudades do que era antes de o ser, e saudades de ser o que já fui. Momentos interligados com o passado, mas com inícios já perdidos, e futuros desconhecidos. Tenho medo de o descobrir. Tenho medo de ver no que tudo dá, pois às vezes o que dá não é nada, e deixa de dar, e só fica vazio. Sabe a pouco. Segundos que pareceram horas, e horas que nada duraram. Momentos evaporados agora voltados com a chuva, outrora partidos com o Sol. Sinto falta. Sabe a pouco. Tentativa de mudança. Vidas novas por descobrir, personalidades novas por viver, todo um rol de repercussões invisíveis, ou nem tanto. Falta a cor. Falta o preenchimento. Sabe a pouco. Tudo sabe a pouco. Eu optei por um novo tinteiro.
(Dedicado a ti.)

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Gato que brincas na rua

Gato que brincas na rua
Como se fosse na cama,
Invejo a sorte que é tua
Porque nem sorte se chama.

Bom servo das leis fatais
Que regem pedras e gentes,
Que tens instintos gerais
E sentes só o que sentes.

És feliz porque és assim,
Todo o nada que és é teu.
Eu vejo-me e estou sem mim,
Conheço-me e não sou eu.
Fernando Pessoa